Em seu acordo de delação, Delcídio acusou o ministro Aloizio Mercadante de lhe oferecer ajuda financeira, política e jurídica em troca de seu silêncio. VEJA revela com exclusividade o conteúdo das conversas, que podem ser consideradas uma tentativa de obstrução da Justiça
Por: Robson Bonin e Daniel Pereira / veja
O senador Delcídio do Amaral cumpria uma jornada
dupla quando era líder do governo. Em público, presidia a poderosa Comissão de
Assuntos Econômicos do Senado e negociava a aprovação das medidas de ajuste
fiscal consideradas prioritárias pela presidente Dilma. Nos bastidores, era
peça-chave na estratégia destinada a impedir que a Operação Lava Jato
descobrisse a cadeia de comando do petrolão.
Longe dos holofotes, Delcídio
atuava como bombeiro. Conversava com empreiteiros, funcionários da Petrobras e
políticos acusados de participar do esquema de corrupção, anotava suas demandas
e informações de bastidor e, depois, relatava-as em detalhes a Dilma e a Lula.
Sua missão era antever dificuldades e propor soluções. Foi ele quem alertou a
presidente de que a Odebrecht tinha feito pagamento no exterior ao marqueteiro
João Santana por serviços prestados a campanhas presidenciais do PT. Foi ele
quem falou para Lula que petistas estrelados estavam reclamando de abandono e
falta de solidariedade. Aos dois chefes, Delcídio fazia o mesmo diagnóstico:
"Enterramos nossos cadáveres em cova rasa. É um erro. Precisamos
enterrá-los com dignidade".
Dignidade, no caso, significava ajudar companheiros
e executivos presos ou sob investigação com dinheiro, assistência jurídica e
lobby a favor deles nos tribunais superiores, para evitar que contassem às
autoridades segredos da engrenagem criminosa que desviou, segundo a Polícia
Federal, quase 50 bilhões de reais da Petrobras. Delcídio repetiu essa
cantilena de forma exaustiva até ser preso e - como gosta de dizer - traído.
Lula o chamou de imbecil por ter sido gravado ao tentar comprar o silêncio de
Nestor Cerveró, um dos delatores do petrolão. O PT também o rifou em público.
Com medo de expiar seus pecados em cova rasa, o bombeiro, agora no papel de
incendiário, mostrou-se disposto a contar às autoridades tudo o que viu, ouviu
e fez a mando de Lula e Dilma durante treze anos de intimidade com o poder. Não
era um blefe. O acordo de delação premiada no qual Delcídio afirma que Lula e
Dilma sabiam da existência do esquema de corrupção e atuaram a fim de mantê-lo
em funcionamento foi homologado pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo
Tribunal Federal (STF). A colaboração, apelidada de "A delação", só
foi formalizada porque o senador resistiu a uma proposta generosa de
"enterro com dignidade" apresentada pelo petista Aloizio Mercadante.
Ex-chefe da Casa Civil do governo Dilma, atual
titular da pasta da Educação e um dos ministros mais próximos da presidente,
Mercadante prometeu dinheiro e ajuda para que Delcídio deixasse a prisão e
escapasse do processo de cassação de mandato no Senado. Em contrapartida, pede
a Delcídio que não "desestabilize tudo" com sua delação. O ministro
não tratou diretamente com o senador, que já estava sob a custódia da polícia,
mas com um assessor da estrita confiança de Delcídio, José Eduardo Marzagão. Os
dois se reuniram duas vezes no gabinete de Mercadante no ministério. As
conversas foram gravadas por Marzagão e entregues à Procuradoria-Geral da
República por Delcídio, que, em depoimento formal, disse que o ministro agira a
mando de Dilma. Com essa observação, acusou o ministro e a presidente de tentar
comprar o silêncio de uma testemunha, obstruindo o trabalho da Justiça. Era o
acerto de contas de Delcídio com os senhores que lhes viraram as costas.
"Me senti pressionado pelo governo", disse ele aos procuradores.
Delcídio: preso e, como gosta de
dizer, traído(Pedro Ladeira/Folhapress)
Nos diálogos, aos quais VEJA teve acesso (ouça
abaixo), Mercadante oferece ajuda financeira à família de Delcídio e
promete usar a influência política do governo junto ao Senado e ao Supremo
Tribunal Federal para tentar evitar a cassação do senador e conseguir sua
libertação. Além de dizer a Marzagão que Delcídio deveria ficar
"calmo", deixar "baixar a poeira" e não fazer "nenhum
movimento precipitado", Mercadante prometeu procurar o presidente do
Senado, Renan Calheiros, para armar um plano de modo a fazer com que o Senado
voltasse atrás na decisão, tomada em plenário, ratificando a ordem de prisão
expedida pelo Supremo. "Por que é que não pede reconsideração ao Senado?
Pode?", questiona o ministro. "Acho que não", diz o assessor. "Em
política, tudo pode", ensina Mercadante.
Descrevendo seu plano, Mercadante deixa claro ao
assessor que vai tentar "construir com o Supremo uma saída" para
Delcídio. Diz que Ricardo Lewandowski, o presidente do STF, poderia libertar
Delcídio por meio de liminar, durante o recesso de fim de ano do Judiciário.
"O presidente vai ficar no exercício... Também precisa conversar com o
Lewandowski. Eu posso falar com ele pra ver se a gente encontra uma
saída", oferece Mercadante. Sem citar o nome, o ministro dá a entender que
vai procurar outro ministro do STF e que sua ideia é fazer com que o Senado
procure Teori Zavascki para pleitear a soltura do senador. "Talvez o
Senado possa fazer uma moção, a mesa do Senado, ao Teori, entendeu? Um pedido:
olha, nós demos autorização considerando o flagrante, considerando as condições
etc, mas não há necessidade pá, pá, pá - pá, pá, pá. E tentar construir com o
Supremo uma saída", diz. A menção ao STF foi ligeira mas estratégica.
Naquela altura, a prioridade da família de Delcídio era libertá-lo antes do
Natal. Havia, entretanto, a suspeita de que Teori negaria, como de fato
ocorreu, o pedido de habeas-corpus. A oferta de Mercadante remediaria o
problema.
Sobre a possibilidade de uma delação de Delcídio,
Mercadante diz: "Eu acho que ele devia esperar, não fazer nenhum movimento
precipitado, deixar baixar a poeira, ele vai sair, a confusão é muito
grande". A primeira conversa entre Mercadante e o assessor de Delcídio
ocorreu no dia 1º de dezembro, uma semana após a prisão do ex-líder do governo.
A segunda deu-se no dia 9 de dezembro, um dia após a família de Delcídio
decidir contratar o escritório do advogado Antonio Augusto Figueiredo Basto, um
dos principais especialistas em delação premiada no país. No primeiro encontro
com assessor, Mercadante se mostra cauteloso. Diz que Delcídio é
"fundamental para o governo", fala em lealdade, promete ajuda e deixa
entender que fala em nome da presidente Dilma: "Eu sou um cara leal. A
Dilma sabe que, se não tiver uma pessoa para descer aquela rampa, eu vou com ela
até o final".
Fica claro que Mercadante está preocupado em
acalmar a mulher e as filhas de Delcídio, as principais incentivadoras de um
acordo de delação. Diz ao assessor do senador: "Eu tô te chamando aqui
para dizer o seguinte: eu serei solidário ao Delcídio. Eu gosto do Delcídio, eu
acho ele um cara muito competente, muito habilidoso, foi fundamental para o
governo (...) Eu vi o que estão fazendo com as filhas dele. Uma canalhice
monumental. Imagino o desespero dele. Então você veja o que ele precisa que eu
posso ajudar". O ministro aconselha o assessor a dizer para Delcídio
seguir em silêncio para "não ser um agente que desestabilize tudo".
Chega a fazer uma ameaça velada, caso o petista revele os podres do governo:
"Vai sobrar uma responsabilidade pra ele monumental, entendeu?".
No segundo encontro, ainda sob o impacto da notícia
da contratação do especialista em delações, Mercadante é mais explícito. Revela
seu plano no Judiciário, reclama que, por causa dos rumores de acordo com a
Lava Jato, nem Renan Calheiros, investigado no STF, nem o governo poderão se
mexer para salvar Delcídio. Chega a pedir ao petista para que abafe o assunto
delação. Diz Mercadante: "Como é que o Renan vai se mexer... Eu sei que
ele tá acuado porque o outro vai... Entendeu? Como é que o governo se mexe,
porque parece que tem alguma coisa que ele (Delcídio) sabe do rabo de alguém.
Então, eu acho que tem que tirar isso (delação) da pauta nesse momento".
O assessor de Delcídio relata as dificuldades
financeiras do senador, afirma que a família está planejando vender imóveis e
se desfazer de bens para custear o processo. Mercadante se dispõe a viajar para
Mato Grosso do Sul para dar assistência à família: "Isso aí também a gente
pode ver no que é que a gente pode ajudar, na coisa de advogado, essa coisa.
Não sei. Pô, Marzagão, você tem que dizer no que é que eu posso ajudar. Eu só
tô aqui pra ajudar. Veja o que que eu posso ajudar". O ministro explica
que, se a mulher de Delcídio aceitasse conversar, ele organizaria uma visita,
como ministro da Educação, em alguma universidade do Estado para ocultar o real
objetivo da viagem.
Marzagão trabalha com o senador há treze anos. Nos
87 dias em que o petista ficou preso, Marzagão só não fez companhia a ele uma
única vez, quando foi ao casamento da filha em Fortaleza. Era Marzagão quem
levava e trazia informações, providenciava alimentação e livros, ouvia
histórias e compartilhava de desabafos e crises de choro. Antes de procurar o
assessor, Mercadante tentou contato com a esposa do senador. O ministro foi
repelido com contundência. Maika, a esposa de Delcídio, não escondia a raiva
pelo fato de o marido ter se prestado, segundo ela, a fazer serviços sujos para
Lula e Dilma, como a tentativa de comprar testemunhas do petrolão, motivo que o
levou à prisão. Além disso, Maika sabia que o ministro sempre fora um desafeto
de Delcídio no partido. Os dois, senador e ministro, nunca foram amigos, nem
mantinham relações amistosas. Por isso, Maika viu a tentativa de aproximação de
Mercadante com estranhamento.
Ao ser chamado para uma conversa com um desafeto de
Delcídio, Marzagão resolveu gravar tudo, como medida de precaução. Temia ser
alvo de uma armadilha tramada pelo governo a fim de desmoralizar o senador,
que, como antecipara VEJA, ameaçava contar seus segredos às autoridades. O
senador e seu assessor também sabiam como o Ministério Público valorizava
gravações com tentativas de obstruir a Justiça. Afinal, uma gravação e uma
proposta de auxílio financeiro levaram Delcídio à cadeia, acusado de tentar sabotar
o trabalho da Justiça. Como Mercadante, Delcídio também queria calar uma
testemunha.
A proposta de silêncio
"Eu acho que ele devia esperar"
Ex-chefe
da Casa Civil e um dos ministros mais próximos da presidente Dilma, Aloizio
Mercadante conversou duas vezes com José Eduardo Marzagão, assessor do senador
Delcídio do Amaral. O objetivo do ministro, segundo o parlamentar, era comprar
o seu silêncio. A segunda reunião entre eles ocorreu um dia depois de o senador
contratar um advogado especializado em delação premiada. Nela, Mercadante
reforça o pedido para que não haja colaboração com o Ministério Público e deixa
claro que a delação, se confirmada, desestabilizaria o governo.
AM - O que é que tem que você acha que
eu possa ajudar?
JEM - Ministro...
AM - De verdade. Tô falando assim. Eu
tô aqui. Ó, eu falei: Eu não quero nem saber o que o Delcídio fez.
JEM - É.
AM - Eu quero... (inaudível) eu acho
que ele devia esperar, não fazer nenhum movimento precipitado, ele já fez um
movimento errado, deixar baixar a poeira, ele vai sair, a confusão é muito
grande. Aí... entendeu?
JEM - Ministro, o problema é o seguinte.
AM - Pra ele não ser um agente que
desestabilize tudo. Porque senão vai sobrar uma responsabilidade pra ele
monumental, entendeu?
Ajuda financeira
"Veja o que eu posso ajudar"
Ciente de
que a família de Delcídio pressionava o senador a fechar um acordo de delação
premiada, Mercadante diz a Marzagão estar disposto a forjar uma agenda oficial,
como ministro da Educação, para visitar a esposa e as duas filhas do petista.
Informado de que elas enfrentavam dificuldades financeiras, não hesita em
prometer uma providencial ajuda em dinheiro, para pagar os custos com os
advogados, ressalta.
AM - É o seguinte, eu me disponho, já
te falei isso reservadamente, eu faço uma agenda no Mato Grosso do Sul, eu
tenho que ir visitar uma universidade, um instituto... eu falo Maika, eu quero
passar aí ...da outra vez ela fez um jantar pra mim... quando eu fui lá fazer
uma agenda e ela fez um jantar na casa. Então, ó eu gostaria de passar aí, lhe
dar um abraço e tal, se tiver espaço.
JEM - Só pra você ter uma ideia, eles
estão vendendo a casa.
AM - Pra não ficar expostos.
JEM - Não, até pra...
AM - Arrecadar dinheiro.
JEM - Arrecadar dinheiro. Os carros, a
casa. A fazenda, porque é da mãe e do irmão, então lá não vai mexer. Aliás, o
irmão tá vindo aí pra tratar desses assuntos. Assuntos financeiros mesmo.
AM - Patrimônio da família.
JEM - Patrimônio, as dívidas que ele
tem. Pra você ter uma ideia da situação dele, o salário dele tem consignado. O
salário do Delcídio tem empréstimo consignado, que ele está pagando.
AM - Bom, isso aí também a gente pode
ver no que é que a gente pode ajudar, na coisa de advogado, essa coisa. Não
sei. Pô, Marzagão, você tem que dizer no que é que eu possa ajudar. Eu só to
aqui pra ajudar. Veja o que que eu posso ajudar.
Ajuda política
"Vou conversar com o Renan"
Mercadante
sabia que Delcídio se sentira traído pelo PT, que o censurara publicamente e,
ao lavar as mãos, incentivara o plenário do Senado a referendar a sua prisão. Para
adular o ex-líder do governo, o ministro esbanja solidariedade na conversa com
Marzagão. Ele critica o próprio partido e avisa que negociará com o presidente
do Senado, Renan Calheiros, uma moção, a ser apresentada à Justiça, destinada a
garantir o relaxamento da prisão.
AM - Eu conversei com vários senadores.
JEM - Hã.
AM - Eu falei: vocês se acocoraram!
JEM - Foi.
AM - Ah, pô! Nós tínhamos feito um
movimento com o Sarney, o Jader e o...
JEM - Renan
AM - ...o Renan e tal... Aí veio a nota
do PT. Que nota do PT? Onde que o Rui Falcão agora dirige o plenário do Senado?
... é história... essa instituição tem quase 200 anos de história! Como é que
vocês aceitam uma coisa como essa, gente! Porque isso vai ser um precedente.
JEM - Abriu uma porteira.
AM - Vai abrir a porteira. Então, vocês
precisam repensar o encaminhamento. Talvez o Senado fazer uma moção, a mesa do
Senado, ao Teori, entendeu? Um pedido: olha, nós demos autorização considerando
o flagrante, considerando as condições etc, mas não há necessidade pá, pá, pá -
pá, pá, pá. E tentar construir com o Supremo uma saída. Não pode aceitar isso.
Eu acho que se a gente não for pelo jurídico, pelo político, pelo bom senso e
deixar tudo pra ele que tá acuado, fodido, a família desestruturada, vai sair
só bateção de cabeça. Porque eu posso tentar ajudar nisso aí no Senado. Vou
tentar conversar com o Renan e ponderar a ele de construir uma, entendeu, uma
moção...
Ajuda jurídica
"Pedido de relaxamento de prisão"
A proposta
de compra do silêncio de Delcídio era ampla e irrestrita. Além de dinheiro e
lobby em defesa do petista no Senado, Mercadante promete conversar com o
presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, a fim de
convencê-lo a acolher o pedido de relaxamento de prisão durante o recesso do
Judiciário. A ação, se realizada, não surtiu o efeito esperado. Delcídio só foi
solto em fevereiro, depois de negociar a colaboração com as autoridades.
AM - Eu vou tentar um parecer jurídico
que tente encontrar uma brecha pra que o Senado se pronuncie junto ao Supremo
com o pedido de relaxamento da prisão, porque ela não se justifica mais. Acho
que esse é o caminho que eu vejo. Vou estudar e te dou o retorno de hoje pra
amanhã.
JEM - Isso, porque o problema é que o
dia D é terça-feira.
AM - Tá.
JEM - Porque se passar terça-feira e não
sair, só no ano que vem.
AM - Não, não, mas o presidente vai
ficar no exercício... também precisa conversar com o Lewandowski. Eu posso
falar com ele pra ver se a gente encontra uma saída. Mas eu vou falar com o
ministro no Supremo também.
JEM - Complicado.
AM - Mas é o seguinte, eu não tenho
nada a ver...o Delcídio... zero... não tô nem aí se vai delatar, não vai
delatar, não tô nem aí... a minha, a minha questão com ele é que eu acho um
absurdo o que aconteceu com ele. Primeiro pelo quadro que ele é, segundo pela
cagada que não era necessária aquela exposição que ele teve, terceiro pela
atitude das instituições e do partido (inaudível)... lava a mão, vira as
costas, um cara totalmente... uma coisa covarde pra caralho, um absurdo. Na
minha interpretação, de uma vingança até da... ele pode ter se excedido na CPI
dos Correios, mas é evidente que ele segurou bronca pra caralho.
JEM - Vai saber.
AM - É, lógico que ele sabe. Não sei
exatamente os detalhes, mas eu sei que ele fez o que era possível, prudente,
coisas que não estavam comprovadas, que não eram sérias, mas, é isso aí...
(inaudível)... a função era muito difícil a cobrança em cima dele...
Estratégia de defesa
"O Renan está acuado"
Na segunda
e mais incisiva conversa com Marzagão, Mercadante alega que seria necessário
acabar de vez com os rumores sobre a possibilidade de Delcídio fechar uma
delação. Se o assunto não saísse de pauta, argumentou o ministro, seria difícil
envolver o presidente do Senado, acusado de receber dinheiro sujo do petrolão,
e o governo nos esforços empreendidos para salvar o mandato do petista e
livrá-lo da prisão.
AM - A estratégia de defesa é nesse
sentido, entendeu? Ele foi: meu mandato, eu quero defender meu mandato, eu
quero ter liberdade pra poder defendê-lo, não posso constranger o meu direito
de defesa no Senado e pá pá pá, prerrogativas, estão aqui as minhas condições e
pelo direito que é líquido e certo, a ilegalidade do ato - é um absurdo o que
foi feito...
JEM - Mas ele não pode falar isso.
AM - Não, mas tem que construir. Tem
que ter gente pra fazer e falar.
JEM - É.
AM - O que que é a dificuldade? O que é
que eu quero te alertar. O Renan é um cara que tem uma zona cinzenta nessa
história.
JEM - É.
AM - Como é que o Renan vai se
mexer....eu sei que ele tá acuado porque o outro vai... entendeu?
JEM - É.
AM - Como é que o governo se mexe,
porque parece que tem alguma coisa que ele sabe do rabo de alguém. Então, eu
acho que tem que tirar isso da pauta nesse momento, pra defesa dele, tô
falando... pra tentar construir - não sei se é possível a defesa...
JEM - Honestamente eu não sei...
AM - Eu não sei, o que eu vou... o que
eu me disponho... como eu te falei. Olha, eu não quero me envolver mais do que
posso. Faço isso por absoluta solidariedade. Acho que o que o PT fez é indigno
e acho que o Senado não devia ter recuado.
JEM - É. Mas nem só por causa dele.
AM - Não... é institucional, gente.
Evitar a delação
"Parece que ele está fazendo porque tá com medo"
Neste
trecho, Mercadante detalha como seria a operação de bastidor em favor de
Delcídio e, para dar credibilidade ao discurso, dá nome a um dos participantes
da empreitada. O ministro diz que advogados de confiança, como o ministro do
TCU Bruno Dantas, ex-advogado-geral do Senado, ajudariam a elaborar uma tese
jurídica que permitisse à Casa defender o senador no Supremo Tribunal Federal.
AM - O cara, pô, fodido, acuado,
arrebentado, sangrando... eu vou fazer o seguinte: eu vou conversar com alguns
advogados que eu confio. Acho que vou chamar o Bruno Dantas pra conversar, que
foi advogado-geral da União muito tempo... do Senado, ou algum consultor do
Senado que pense juridicamente se o Senado tem alguma providência pra
interferir. Inclusive alegar o seguinte: nós queremos que ele se defenda, de um
processo aqui pi, pi, pi...
JEM - Sim. Normal.
AM - E crie qualquer porra de um
argumento contanto que ele não fique lá preso, acuado desse jeito.
JEM - Que fique em casa com
tornozeleira, que fique num quartel do Exército, o caralho que seja, mas lá
é...
AM - É ruim. Quando ele fala do risco
da delação, hoje o advogado desmentiu. Fica um negócio assim: Parece que ele tá
fazendo porque tá com medo, entendeu? Porque não tinha essa pauta...
JEM - O problema é o seguinte: é que ele
tá desestruturado. Então, alguém tá colocando pra ele que essa é a única
maneira de ele sair de lá.
AM - Bom, eles fazem isso com todo
mundo. Desestruturam o cara. Botaram... caralho... O que fizeram com o filho do
Paulo Roberto foi isso, com as filhas...
JEM - Sim. Agora, vê a situação dele: um
senador com um mandato vigente
AM - Preso.
JEM - Preso, continua sendo senador e...
um zé-ninguém lá.
AM - Sim... mas tem um lado e tem que pensar
o seguinte... eu acho que precisa esfriar o assunto dele. Vão vir outros. Vai
vir Andrade Gutierrez, não sei quem, não sei quem, o Zelada, o caralho, vai vir
merda pra caralho toda hora. Aí vai diminuindo. Precisa esfriar o caso dele.
Segundo: ele tando lá, não tem inquérito no Senado. Não tem como cassar um
senador preso.
Solidariedade do governo
"Veja o que eu posso ajudar"
Já na
primeira conversa com Marzagão, Mercadante oferece "apoio pessoal e
político" em troca do silêncio do senador Delcídio do Amaral. De início, o
ministro até registra se tratar de uma iniciativa de cunho pessoal. Depois, ele
se trai, ressalta sua relação de lealdade com a presidente Dilma e registra, em
alto e bom som, que a ajuda se dará "dentro do governo".
AM - Eu não conheço a Maika. Mas, se
você achar, porque eu vou dizer o seguinte. Eu sou um cara leal. A Dilma sabe
que se não tiver uma pessoa para descer aquela rampa, eu vou com ela até o
final. Eu gosto do Delcídio, eu acho ele um cara muito competente, muito
habilidoso, foi fundamental para o governo, um monte de virtudes, muito mais
jeitoso, ia atrás, se empenhava, fazia... você não pode pegar uma biografia
como essa, uma história como essa, porque o cara tropeçou numa pedra, numa
situação de desespero, tentando encontrar uma saída, você vê aquele jeito que
ele vai tentando mostrar um serviço, eu não consigo entender por que ele foi
aonde ele foi. Mas foi, não adianta. Então vamos ter que deglutir isso aí. O
que eu acho que ele está precisando agora é algum tipo de apoio e solidariedade
pessoal e político. Então, você veja o que eu posso ajudar. 'Se você achar,
Mercadante, era bom você ir no Mato Grosso do Sul falar com as filhas dele.' Eu
não vou me meter na defesa dele. Não sou advogado, não tenho o que fazer, não sei
do que se trata, não conheço o que foi feito.
JEM - Mas o que o Rui fez queimou
qualquer possibilidade.
AM - Foi um absurdo. Eu dentro, vou
tentar ajudar no que eu posso. Dentro do governo, dentro do partido menos,
porque eu não tenho muitas relações hoje. Mas vou tentar porque achei um
absurdo. Eu quero ajudar no que eu puder. Só vou fazer o que eu puder. Não
adianta me pedir para fazer o que eu não posso fazer porque eu não vou fazer.
Agora, o que eu puder fazer, eu farei. Então eu quero que você saiba disso.
Conversamos nós dois. Você veja lá o que você acha que ajuda e me passa, que eu
vejo a providência que a gente pode tomar. Eu imagino que ele está
completamente sozinho, fica ruim para a segurança dele.
JEM - O senhor é a terceira pessoa. No
dia do acontecido, ligou o Renan e o Sarney para a Maika. Mais nada. E disseram
barbaridades, chamaram a presidente de filha da puta.
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